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Discussão: Compartilhamento do Eu-Criança e do Eu-Educador

Oi pessoal! Como vocês estão?

Para uma Educação de Pessoas para Pessoas é preciso nos conectarmos. Imaginar e Relembrar é importante para o processo de reconstruir e construir novos caminhos.

Este espaço será destinado para compartilharmos um pouco das nossas experiências de recordar no nosso Eu-Criança e o Eu-Educador da “atividade de edição especial de volta às aulas”! Compartilhe e se conecte com outros educadores nesta jornada! Vamos juntos?

 

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A foto abaixo é o que mais se aproxima do que eu tinha como escola numa área rural no interior do Paraná. O meu Eu-criança traz as marcas de um escola onde sentávamos em dupla mas não podíamos conversar com nosso par, era apenas uma forma de organização. O foco deveria estar na professora que gritava e alto e bom tom que era para decorar o questionário porque ela iria "tomar" depois do recreio para saber se tínhamos estudado as 30 questões que iam cair na prova. Isso para minha fileira da 2ª série. Para a fila da 4ª série era a

A foto abaixo é o que mais se aproxima do que eu tinha como escola numa área rural no interior do Paraná. O meu Eu-criança traz as marcas de um escola onde sentávamos em dupla mas não podíamos conversar com nosso par, era apenas uma forma de organização. O foco deveria estar na professora que gritava e alto e bom tom que era para decorar o questionário porque ela iria "tomar" depois do recreio para saber se tínhamos estudado as 30 questões que iam cair na prova. Isso para minha fileira da 2ª série. Para a fila da 4ª série era a tabuada decorada para resolver as "contas", enquanto a 1ª série fazia a caligrafia  e a 3ª fazia as 10 cópias da frase "Eu estou de castigo hoje porque não fiz silêncio na aula". 

O Eu-Educador sempre gritou em silêncio mesmo lá na infância que "tudo podia mudar" e hoje ainda grita, agora com um volume mais alto, meio que sussurrado, mas aqui está ele...buscamos um novo século, algo que faça sentido, que tenha significado aos estudantes.

Que bom vivermos hoje uma escola que brinca e que permite criar e pensar juntos sobre a criação, não mais tremer de medo da nota que vai tirar na prova. Afinal, que prova? Será que podemos dizer que já passamos dessa etapa?

Pois, é ainda precisamos falar mais alto, para que as futuras gerações gritem de alegria e de emoção pelas conquistas de uma escola aberta para todos e que as oportunidades não sejam restritas a poucos privilegiados. Que estas pessoas do futuro possam garantir que seus filhos estudem livremente em escolas e universidades públicas de qualidade, porque as políticas públicas vão dar essa garantia.

Como educadora, sou uma eterna aprendiz e utópica, mas prefiro conjugar, como Paulo Freire, o verbo "Esperançar..."

 

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A foto abaixo é da minha época na escolinha. 

Naquela época eu praticamente cresci com a cidade. Boa parte dos meus colegas de escola estudaram comigo do fundamental ao ensino médio. Nesta foto eu tinha por volta de 3 a 4 anos e a cidade em que eu morava tinha entre 6 a 7 anos de fundação e emancipação. Na escola da foto estudei dos 3 aos 6 anos, lembro em flash de alguns momentos nesta escola, o pequeno de chapéu ao meu lado é o Luiz, irmão do Gabriel (que também está na foto escondidinho entre a menina fofinha de cachinhos

A foto abaixo é da minha época na escolinha. 

Naquela época eu praticamente cresci com a cidade. Boa parte dos meus colegas de escola estudaram comigo do fundamental ao ensino médio. Nesta foto eu tinha por volta de 3 a 4 anos e a cidade em que eu morava tinha entre 6 a 7 anos de fundação e emancipação. Na escola da foto estudei dos 3 aos 6 anos, lembro em flash de alguns momentos nesta escola, o pequeno de chapéu ao meu lado é o Luiz, irmão do Gabriel (que também está na foto escondidinho entre a menina fofinha de cachinhos e sua tiara com fores brancas, os dois eram as crianças que mais lembro dessa época, os passeios no parquinho da cidade, o pé de acerola que tinha dentro da escola e também dos passeios divertidos de camburão com a professora (pois é, nesta época minha família morava em uma das fazendas da Usina que meu pai trabalhava e cuidava da analise diária da plantação, então quando ele não chegava no horário da saída da escola tínhamos esse passeio divertido, o esposo da professora era policial e quando ele chegava na escola ela colocava eu, meu irmão e o filho dela no camburão e íamos esperar meu pai lá na casa dela).

Relembrando do meu Eu-Criança, lembrei de vários momentos, as brincadeiras de rua, os colegas de bairro. Lembrando da escola. Lembrei que durante a 4º série, eu e alguns amigos ensaiamos muito para uma apresentação e durante essa reflexão lembrei de um trecho da música que era:

"Vamos construir uma ponte em nós
Vamos construir
Pra ligar seu coração ao meu
Com o amor que existe em nós" 

E me bateu uma curiosidade para lembrar a música inteira e fui pesquisar. A pesquisa me encheu o coração de alegria e quero compartilhar com vocês, pois a letra é mais incrível do que o refrão que eu recordava.

"Vamos Construir - Sandy e Júnior.

Sei que ainda sou criança, tenho muito que aprender
Mas quero ser criança quando eu crescer
Nosso mundo é um brinquedo com pecinhas para unir
Ele será todo seu, se você pensar assim

Vamos construir uma ponte em nós
Vamos construir
Pra ligar seu coração ao meu
Com o amor que existe em nós

E você que é gente grande também pode aprender
Que amar é importante pro meu mundo e para o seu
Mas eu tenho a esperança de você ser meu amigo
De voltar a ser criança, pra poder brincar comigo

Vamos construir uma ponte em nós
Vamos construir
Pra ligar seu coração ao meu
Com o amor que existe em nós

Tudo o que se sonha
Com o amor se pode conseguir
Porque tudo é assim (é assim)
É assim (é assim)
E a gente vive muito mais feliz

Vamos construir uma ponte em nós
Uma ponte em nós (uma ponte em nós)
Vamos construir pra ligar seu coração ao meu
Com o amor que existe em nós (há vamos sim)

Vamos construir (vamos construir)
Uma ponte em nós (uma ponte em nós)
Vamos construir pra ligar seu coração ao meu
Com o amor que existe em nós"

Esse é um pouquinho do meu eu-criança durante o Ensino Infantil e Fundamental, que eu escolhi compartilhar hoje. Que juntos possamos construir várias pontes para nos conectarmos com nossos alunos e nos reconectarmos com nossos sonhos. Um dos meus sonhos de criança que surgiu durante o Fundamental 2 e ainda está guardado no meu coração e um dia será real é ter um espaço de educação pública em que possamos construir e reconstruir muitas experiências. Que nós possamos lembrar diariamente dos nossos sonhos e usamos como motivação para cada dia buscar construir novas possibilidades.

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Refletindo sobre meu Eu-Criança com meu Eu-Educador.

Sempre estudei na rede pública municipal, estadual e depois federal, morava em uma cidade pequena aqui no interior do Mato Grosso do Sul. Hoje quero compartilhar um pouco mais das minhas lembranças.

“A paixão é emoção gratuita. Não há causas que a expliquem.” Rubem Alves.

Sempre gostei de observar o mundo, fato esse gerado/incentivado pelos meus pais, que cultivavam o ato de observar e refletir sobre as coisas e as situações do nosso cotidiano. Na escola, eu tinha grande afinidade com Ciências, Matemática e Artes. Me lembro que na quinta série (atual sexto

Refletindo sobre meu Eu-Criança com meu Eu-Educador.

Sempre estudei na rede pública municipal, estadual e depois federal, morava em uma cidade pequena aqui no interior do Mato Grosso do Sul. Hoje quero compartilhar um pouco mais das minhas lembranças.

“A paixão é emoção gratuita. Não há causas que a expliquem.” Rubem Alves.

Sempre gostei de observar o mundo, fato esse gerado/incentivado pelos meus pais, que cultivavam o ato de observar e refletir sobre as coisas e as situações do nosso cotidiano. Na escola, eu tinha grande afinidade com Ciências, Matemática e Artes. Me lembro que na quinta série (atual sexto ano do ensino fundamental) a professora de ciências contou que haveria um eclipse lunar. Tal fato me deixou extremamente animada, passei a tarde inteira esperando pelo fenômeno. Quando a noite chegou, convenci meus pais a colocarem meu colchão na parte de fora de casa. Eu e meu irmão caçula ficamos lá esperando a lua “desaparecer”. Adormecemos e não vimos nada do grande acontecimento. Provavelmente, foi durante essa etapa que o amor pela ciência e astronomia começou a germinar em mim.

Na escola um dos meus lugares favoritos era a biblioteca. Ah! Que lembrança boa os pés de fruta, subir nas árvores, e nas "aulas vagas" pela falta de professores a biblioteca era mais legal do que ficar correndo no sol, com certeza. Aquele lugar foi por anos meu ambiente preferido. Escondida entre as árvores da escola, lá estava ela. De tijolos a vista com uma única porta e duas janelas azuis. No interior havia cinco estantes com livros, uma mesa com dois bancos de madeira, um ventilador de teto e no canto da sala uma pequena mesa com cadeira, onde ficava a bibliotecária, uma professora que esperava a aposentadoria. Por anos, minha rota e rotina estavam ligadas àquela pequena biblioteca entre os intervalos e as aulas vagas.

As visitas diárias me trouxeram diversas oportunidades. Por indicação da professora responsável pela biblioteca, fui convidada a participar do primeiro curso de Libras que a secretaria de educação do município oferecia aos professores da rede municipal de ensino. De repente, lá estava eu, a única aluna entre várias professoras, aprendendo LIBRAS com professores mudos.

Acredito que foi nesse momento que o amor pelo ensino e a área da educação começou a germinar em mim. As aulas de LIBRAS eram um mundo onde as barreiras eram praticamente inexistentes. Um ambiente confortável, onde todos eram alunos e também professores. Este era o sentimento que aquele ambiente me traz na memória. Nele aprendi um pouco mais sobre como cada pessoa tem seu próprio mundo e uma maneira única de ver o Mundo. Foram três anos e muitas histórias para contar e com certeza foi nesse ambiente que o amor pelo ensino e a educação floresceu.

No decorrer do curso fui para o ensino médio e o encontro apaixonante com a física foi inevitável. Na primeira aula, o professor tirou dois carrinhos de corda na mochila, pediu para um colega ir até o quadro e deu um carrinho para ele. Ambos deram corda e soltaram os carrinhos juntos na canaleta de colocar o apagador e o giz, os carrinhos se chocaram, um caiu para fora e o outro ficou. Então o professor falou que ia explicar porque aquilo tinha acontecido e começou a desenhar um monte de coisas no quadro. Confesso que não me recordo o que mais aconteceu, mas aquele momento está guardado na minha lembrança como um momento feliz. 

Durante esse trajeto paralelo da Escola e do curso de Libras, pude entender que havia muito mais do que a escola mostrava e eu conseguia imaginar. Hoje, refletindo sobre o passado, é muito claro para mim que a minha visão de mundo e tomada de consciência sobre ele só ocorreu pelas experiências que acabei vivenciando.

Cursar Física Licenciatura foi um sonho durante o ensino médio. Ser aprovada no vestibular transformou o sonho em realidade. A minha formação como aluna/pesquisadora se deu em um processo pessoal e coletivo, contando com três pilares fundamentais: interesse e motivação pelo tema; preocupação com o ensinar/aprender e a sua importância social; participar de um grupo de pesquisa que estimulava a autonomia. E neste processo, o amor pela astronomia renasce dentro de mim com gosto de infância, como algo que dormia e se despertou, como personagem principal que completa minhas duas outras paixões, o ensino e a ciência. Em um ambiente rico de oportunidades me encontrei na Casa da Ciência de Campo Grande que era cuidada por dois professores, Rodolfo Langhi e Hamilton Corrêa. Este último, durante a trajetória acadêmica se tornou meu orientador e sempre me incentivou e apoiou ações educativa que fossem mais significativas e mãos na massa, permitindo que seus alunos trabalharem com a temática que tinham interesse e não com o que ele queria, que incentiva a autonomia, sempre pensando no aluno, no desenvolvimento de projetos que tivessem nossas paixões., Foi o professor que me levou ao museu pela primeira vez e hoje é um dos meus lugares favoritos e eu só tive oportunidade de conhecer quando fui para universidade. Onde cresci não sabíamos o que tinha além dali. O ciclo era Nascer - Crescer - Terminar a escola - Ir trabalhar no comércio local ou na Usina de cana - Casar - Ter filhos - e continuar até o fim. Hoje, moro na capital, mas observo que meus alunos dos bairros e periferias mais pobres não vivem muito diferente do interior, estão expostos a mais violências que a cidade em que cresci, mas apesar de estarem dentro de um munícipio que tem de tudo, poucos são os que têm acesso. Então o que eu busco fazer é oportunizar a eles o acesso para que possam viver os lugares e descobrir quanta coisa incrível existe além dos limites do bairro.

Acredito que nosso Eu-Educador nunca para. Ele está em constante mudança e aperfeiçoamento. Meu Eu-Educador quer sempre que as crianças e adolescentes possam ter acesso ao que eu tive oportunidade e ao que eu não tive. Eu tirei um tempo para compartilhar um pouco de mim com vocês, os momentos difíceis busco levar como aprendizado. Os professores que de certa forma não me passaram bons exemplos no caminho, guardei na gaveta das "coisas que não quero fazer" e mesmo sem saber que tipo de educadora eu sou, sei como não quero ser. E todo dia recomeço buscando lembrar do que é mais importante: Ser humano.

 

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