Um convite aos estudantes: Como podemos viver melhor juntos?
Viver juntos significa determinar e respeitar regras, saber lidar com conflitos, acolher as diversidades, saber compartilhar, encontrar formas inteligentes e sustentáveis de ocupar os espaços e conviver com outras espécies… e o que mais?
Podemos começar esta atividade convidando os estudantes a pensarem em quais são os desafios em cada situação em que vivemos com outras pessoas:
- Na mesma casa
- Na mesma rua
- Na mesma escola
- No mesmo bairro
- Na mesma cidade
- No mesmo planeta
Eles podem anotar suas reflexões enquanto conversam sobre isso com seus colegas.
Podemos incentivá-los a pensarem nos diferentes grupos de pessoas com as quais eles convivem e interagem… de que forma eles poderiam viver melhor juntos? Por exemplo: poderia haver maior respeito à privacidade onde moram, melhores espaços de convivência na escola, maior cuidado com o barulho e a limpeza na sua rua, hortas comunitárias e associações de moradores no bairro onde vivem, movimentos sociais de valorização à diversidade na sua cidade e o desenvolvimento de uma nova forma de moradia sustentável.
Então, podemos convidá-los a pensar sobre as seguintes questões:
- E se você pudesse criar uma nova maneira de vivermos juntos?
- Quais tipos de desafios você abordaria nesse projeto?
- Qual seria o impacto positivo que você gostaria de causar?
- De que forma esse projeto conversaria com seus interesses e necessidades?
- Como você acha que viveremos juntos daqui a 100 anos?
Dica - Algumas sugestões de como mediar este momento
- Incentive os estudantes a explorarem e interagirem com as inspirações e provocações que você levar para a sala. Você pode ambientar todo o espaço da sala, cobrir as paredes com os materiais impressos e painéis de interação, organizar os projetos físicos sobre as carteiras ou no chão, espalhar vários pequenos pedaços de papel para que a turma anote ideias e palavras que vêm em mente. Você também pode deixar tocando uma música que tenha relação com o tema e projetar vídeos e imagens com ajuda de um projetor multimídia ou disponibilizá-los em computadores, tablets ou notebooks se houver esses dispositivos. Neste caso, também é interessante solicitar aos alunos que levem seus fones de ouvido no dia.
- Se puder e quiser, aproveite o seu momento de estudo e planejamento para explorar diferentes comunidades ao redor do mundo (suas habitações, seus costumes e rituais), usando o Google Arts and Culture e a área “viajante” do Google Earth.
- Convide os estudantes a compartilharem com seus colegas sobre o que estão imaginando criar, porque tiveram aquela ideia e deixe-os livres para pensarem em projetos em grupos caso queiram.
Mão na massa!
Hora dos estudantes criarem seus projetos!
A ideia é que os estudantes criem um projeto que os ajude a viver melhor juntos. Eles podem abordar desde algo muito particular e individual, como o roteiro de uma conversa importante que precisem ter com um familiar ou amigo, até projetos mais gerais, como habitações que permitem uma vida compartilhada na natureza, uma campanha de conscientização da importância de atos individuais para a manutenção da saúde coletiva (como a vacinação, por exemplo), o planejamento de melhorias de acessibilidade na sua escola, a criação do protótipo de um sistema de esgoto que também forneça energia ou de um aplicativo que ajude a evitar o desperdício de alimentos.
Podemos ajudar os estudantes a sistematizarem suas ideias pensando nas seguintes questões:
- Uma nova forma de viver junto que quero abordar com meu projeto está relacionada a...
- Escolhi abordar isso porque penso que ...
- Acho que seria legal se o meu projeto…
Dica - Algumas sugestões de como mediar este momento
- Este é o principal momento de usar as inspirações que separamos para ajudar os estudantes a se conectarem com o tema. Podemos levar os projetos que construímos durante a preparação desta atividade e outros exemplos para inspirar os estudantes, como:
- Sugerir que explorem a Wikipedia, que é um projeto de enciclopédia multilíngue de licença livre, baseado na web e escrito de maneira colaborativa.
- Apresentar o projeto Vizinho do Bem, uma plataforma criada emergencialmente para conectar pessoas que estejam dispostas a ajudar outras pessoas em situação de maior risco de exposição ao COVID-19.
- Incentivar a exploração de geodésicas e de novas formas de viver juntos na natureza.
- Incentive os estudantes a se agruparem a partir de interesses em comum (por exemplo: campanhas para uma causa, habitações diferentes, meio ambiente e sustentabilidade, entre outros). Eles não precisam construir o projeto juntos, a intenção é criar uma possibilidade de troca de ideias. Qual seria uma configuração interessante da sala de aula para este tipo de atividade?
Incentive os estudantes a explorarem estruturas, ideias e materiais!
Algumas questões que podem ajudá-los a estruturar suas ideias e explorar diferentes caminhos. E se eles:
- Criarem uma forma de ampliar o alcance dos seus projetos?
- Explorarem outros contextos em que seus projetos poderiam ser úteis?
- Utilizarem diferentes tecnologias digitais nos seus projetos?
- Levarem seus projetos para além dos muros da escola?
Dica - Inspiração: economia colaborativa
Também conhecida como economia compartilhada ou em rede, é uma tendência de as pessoas compartilharem ou alugarem bens, em vez de simplesmente comprarem o que desejam. Observe esse trecho do artigo “Conheça as vantagens da economia colaborativa” publicado no portal do Sebrae:
A economia colaborativa [...] é um movimento de concretização de uma nova percepção de mundo. Ela representa o entendimento de que, diante de problemas sociais e ambientais que se agravam cada vez mais, a divisão deve necessariamente substituir o acúmulo.
[...] Basta uma rápida pesquisa para você perceber que esse estilo de vida não tem nada de novo. [...]
De acordo com Tomás de Lara, cofundador da Engage e do Catarse, o fenômeno da economia colaborativa é ancestral: “Povos indígenas e comunidades já tinham isso de compartilhar, de acessar as coisas dos outros, de trocar”, explica.
A novidade é a forma massiva como o fenômeno passou a ocorrer em 2008 e 2009, graças aos avanços tecnológicos. “A partir de então, todo mundo, de forma muito rápida e quase que barata, pôde fazer transações e se geolocalizar, se encontrar e saber da melhor forma de usar um recurso”, afirma. (Disponível em: Conheça as vantagens da economia colaborativa. Acesso em 1º de fevereiro de 2021)
Por exemplo, quantas vezes usamos uma furadeira em nossas casas durante um ano? Se não trabalhamos com algo que necessite o uso constante dessa ferramenta, dificilmente a usaríamos mais de uma vez nesse período. Então, uma furadeira bastaria para dezenas, talvez centenas de pessoas.
Pensando nisso, uma jovem carioca criou em 2014 uma plataforma chamada “Tem açúcar”, com o objetivo de contribuir para a redução do consumo, além de conectar as pessoas da vizinhança. A intenção é justamente resgatar o senso de comunidade de quando batíamos na porta do vizinho para pedir uma xícara de açúcar e ao mesmo tempo incentivar a adoção de atitudes sustentáveis!
Se você quer conhecer melhor a iniciativa, é só visitar a plataforma e baixar o aplicativo no seu celular!
E se convidássemos os estudantes a pensar em como poderiam criar na sua rua ou bairro, uma “biblioteca” de ferramentas e outros objetos que poderiam ter seu uso compartilhado?
Dica - Amplie as possibilidades!
Apesar de inicialmente esta atividade não envolver o uso de tecnologias digitais, você pode explorá-las se desejar e tiver acesso a elas. Com elas, os estudantes pode, por exemplo:
- Criar gadgets e artefatos robóticos explorando inicialmente papelão e materiais alternativos e, posteriormente, modelagem e impressão 3D e uso de linguagem de programação e microcontroladores para comandar as ações;
- Criar comunidades virtuais interativas explorando o Scratch ou o Minecraft;
- Criar animações e campanhas interativas que confrontem as pessoas com diferentes desafios da vida em comunidade;
- Criar murais interativos com circuitos de papel;
- Criar aplicativos usando o App Inventor ou outras plataformas;
- Visitar um fablab público para conhecer e utilizar os equipamentos de fabricação digital para materializarem suas ideias.
E se eu quiser estender a criação e envolver mais de uma aula?
Você pode:
- Orientar os estudantes, quando o tempo da primeira aula estiver próximo ao fim, a organizarem os materiais que estavam explorando e a identificarem seus projetos, caso eles fiquem armazenados na escola até a próxima aula;
- Convidar os alunos a seguirem observando os desafios da vida em sociedade nos diferentes círculos que frequentam e o impacto que têm no seu dia-a-dia. Eles também podem aproveitar para perguntar para as pessoas de casa e seus amigos que novas formas de viver juntos gostariam de criar, ou conversar sobre a situação que estão explorando em seus projetos.
- Convidar os estudantes a levarem na próxima aula os materiais e ideias desbravadas durante o intervalo, e a registrarem esse percurso de descobertas e reflexões em um diário de bordo;
- Realizar um momento inicial na aula seguinte para o compartilhamento de ideias enquanto retomam os projetos e organizam os materiais;
Como foi o processo de criação?
Depois de criarem seus projetos, podemos convidar os estudantes a compartilharem o que criaram e refletirem sobre esse processo de criação.
Algumas perguntas para ajudar a mediar esse momento em que eles apresentam o que criaram:
- Qual aspecto coletivo você abordou no seu projeto e por que fez essa escolha?
- Quem o seu projeto ajudaria?
- Como o seu projeto representa o que é importante para você?
- Como surgiu a ideia para criá-lo?
- Você se surpreendeu com algo durante a criação?
- O que você faria diferente se tivesse mais tempo ou outros materiais disponíveis?
Podemos propor essas perguntas alternadamente para um ou outro estudante, para que todos tenham a oportunidade de falar. E uma boa forma de iniciar esse momento com a turma é apresentando o seu projeto, para incentivar os alunos a compartilharem aos poucos o que criaram.
Além de refletirem sobre o próprio processo de criação, este é um rico momento para conhecerem melhor os seus colegas, fazerem perguntas genuínas e aprenderem a dar e receber feedback.
O que descobri sobre meus colegas?
Em relação ao que conheceram do projetos apresentados pelos colegas, podemos convidar os estudantes a pensarem sobre as seguintes questões:
- Percebeu um jeito curioso de abordar situações coletivas nos projetos criados por seus colegas?
- Descobriu outra situação coletiva que também considerou importante, mas que não havia pensado antes?
- Algum projeto despertou a sua curiosidade?
- Que elementos chamaram a sua atenção?
- Você tem sugestões que podem ajudar seus colegas a aprimorarem seus projetos?
- Pretende pedir a ajuda a alguém, depois de conhecer o que a turma criou?
Os estudantes podem aproveitar para conhecerem diferentes ideias e interesses, e perceberem que existem muitas maneiras de abordar as novas formas de viver juntos. Você pode incentivá-los a exercitar a imaginação pensando em como poderiam conectar os diferentes projetos em algo maior ou em como algumas dessas criações poderiam ganhar mais alcance, ir para além dos muros da escola.
Dica - Sobre aprender a dar e receber feedback
Os feedbacks são super importantes para que seja possível avançar na criação de um projeto. No entanto, sempre que houver alguma crítica, devemos lembrar os estudantes que elas devem ser específicas, gentis e úteis.
Outro ponto importante é incentivarmos os alunos a perceberem as convergências de interesses e quanta diversidade há na turma e como poderiam usar isso a favor deles na criação de projetos coletivos.
Sugestões de como mediar este momento
- Podemos propor um momento inicial de galeria de projetos, em que os estudantes caminham pela sala (você pode colocar uma música de fundo para tornar esse momento mais divertido) para conhecer os projetos de seus colegas de deixar observações por escrito. Se você optar por esse tipo de organização, lembre-se de disponibilizar pequenos pedaços de papel para os estudantes anotarem suas observações e deixarem ao lado de cada projeto.
- Outra possibilidade é organizar uma galeria de projetos com apresentação, em que metade da turma fica no lugar para apresentar o que criou e a outra metade roda a sala para conhecer os projetos. Depois, invertem-se os papéis.
- Também é possível organizar uma rodada de apresentações dentro do grupo e eleger uma pessoa de cada grupo para apresentar o que viu para toda a turma.
- Podemos ajudar os estudantes a sistematizarem suas observações com as seguintes proposições:
- Durante meu processo de criação, me surpreendi com...
- Olhando os projetos dos meus colegas, acredito que poderia…
- Coisas que descobri e que pretendo usar em outros projetos...
- No futuro, penso em criar...
- Caso os projetos sejam virtuais, podemos incentivar, após o compartilhamento, a criação de um mural colaborativo (no Padlet ou Wakelet) com os links das criações, e / ou o compartilhamento nas mídias sociais utilizando as hashtags da atividade.
E se você convidar as pessoas afetadas pelos desafios que os estudantes escolheram abordar em seus projetos?
Ou abrisse espaço para que os próprios estudantes convidassem pessoas que consideram importantes para prestigiar esse momento?
Ou realizasse uma videoconferência com um profissional diretamente ligado às criações exploradas pelos estudantes, como um engenheiro, arquiteto ou designer?
Dica - Ampliando conexões com o tema...
Outro ponto que merece atenção é convidá-los a pensar em como poderiam usar o que aprenderam nessa atividade em outras áreas que estão estudando ou outras situações da sua vida. Por isso, após o compartilhamento dos projetos, reúna a turma para uma roda de conversa sobre a atividade. Observe a seguir algumas sugestões de questões que podem ajudar nessa conversa:
- Que questões relacionadas à sustentabilidade e ao compartilhamento de recursos precisamos considerar ao pensar em novas formas de viver juntos?
- O que significa uma comunidade planejada de forma inteligente?
- De que forma podemos usar as tecnologias a nosso favor para vivermos melhor juntos?
- Como você enxerga o seu papel na criação de um futuro melhor nessa nossa vida em sociedade?
Dica - Sobre viver juntos na internet...
A Wikipédia como um bom exemplo de convivência na internet, ao incentivar pessoas de todo o mundo a coletar e desenvolver conteúdo educacional sob uma licença livre ou no domínio público, e para disseminá-lo efetivamente e globalmente.
No entanto, viver juntos na internet também pode ter consequências um tanto complicadas, como aparece nesse trecho de uma entrevista com o sociólogo Zygmunt Bauman, publicado no jornal El País no dia 8 de janeiro de 2016:
Pergunta: As redes sociais mudaram a forma como as pessoas protestam e a exigência de transparência. Você é um cético sobre esse “ativismo de sofá” e ressalta que a Internet também nos entorpece com entretenimento barato. Em vez de um instrumento revolucionário, como alguns pensam, as redes sociais são o novo ópio do povo?
Resposta: A questão da identidade foi transformada de algo preestabelecido em uma tarefa: você tem que criar a sua própria comunidade. Mas não se cria uma comunidade, você tem uma ou não; o que as redes sociais podem gerar é um substituto. A diferença entre a comunidade e a rede é que você pertence à comunidade, mas a rede pertence a você. É possível adicionar e deletar amigos, e controlar as pessoas com quem você se relaciona. Isso faz com que os indivíduos se sintam um pouco melhor, porque a solidão é a grande ameaça nesses tempos individualistas. Mas, nas redes, é tão fácil adicionar e deletar amigos que as habilidades sociais não são necessárias. Elas são desenvolvidas na rua, ou no trabalho, ao encontrar gente com quem se precisa ter uma interação razoável. Aí você tem que enfrentar as dificuldades, se envolver em um diálogo. O papa Francisco, que é um grande homem, ao ser eleito, deu sua primeira entrevista a Eugenio Scalfari, um jornalista italiano que é um ateu autoproclamado. Foi um sinal: o diálogo real não é falar com gente que pensa igual a você. As redes sociais não ensinam a dialogar porque é muito fácil evitar a controvérsia… Muita gente as usa não para unir, não para ampliar seus horizontes, mas ao contrário, para se fechar no que eu chamo de zonas de conforto, onde o único som que escutam é o eco de suas próprias vozes, onde o único que veem são os reflexos de suas próprias caras. As redes são muito úteis, oferecem serviços muito prazerosos, mas são uma armadilha.
E se você aproveitasse para ampliar as discussões sobre vivermos melhor juntos trazendo o debate a respeito de novas formas de viver juntos também na internet e as consequências que essa vida virtual tem na vida real. São exemplos de questões que poderiam ser abordadas:
- Pense no seu comportamento nas suas redes sociais e na resposta do Bauman à pergunta. Qual é a sua opinião sobre o que ele disse? Por que você acha isso?
- Por que um “diálogo real não é falar com gente que pensa igual a você”? De que forma diálogos reais afetam a nossa forma de viver juntos?
- A forma como vivemos juntos na internet tem afetado o modo como vivemos juntos fora dela? Por quê você acha isso?
- Que boas experiências você já teve explorando as redes sociais na internet?